escrito em 2 de março de 2023.

Ontem foi a primeira oficina do ano que dei pela escola da palavra . Sobre analogia, semelhança e metáfora, a partir da poesia da Ana Martins Marques e com alguns comentários a partir de Aristóteles, Anne Carson e Walter Benjamin.
Esse poema, Minas, sempre cresce com os comentários dos alunos. Deixo aqui alguns dos comentários que fizemos juntos sobre ele.
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> Estrutura: a primeira estrofe tem 12 versos, a segunda tem metade, 6. Na primeira estrofe, os versos mimetizam o movimento das ondas.
> A divisão das estrofes marca também a separação entre dois mundos: um mineiro o outro litorâneo. É um poema sobre a distância, e sobre o seu encurtamento como escuta.
> Atenção à polissemia do título: Minas é um lugar, um tipo de instalação de trabalho, o verbo “minar” conjugado na segunda pessoa, e uma instalação bélica de proteção.
> Atenção à polissemia dos metais no último verso: há os metais das minas, claro, mas há também os metais “elementares”. E se é um poema sobre o som e o silêncio, há também os metais de uma orquestra, sem uso, um barulho potencial que só pode ser ouvido enquanto silêncio.
> Pode-se encostar o ouvido no peito como se o encostasse a uma concha.
> Os peitos se bifurcam como caminhos em uma mina. Os peitos são não apenas concha, mas também cavernas.
> Há duas cegueiras: a do sol e a das cavernas. A luz também cega.
> A segunda estrofe é um convite para o sossego. Mas também para o perigo (no outro sentido de minas, no outro sentido dos metais).
> A primeira estrofe é uma hipótese, a segunda é imperativa.
> Os peitos se assemelham pela diferença. A semelhança inclui a ideia de diferença (o que não acontece com o pensamento que produz identidade / igualdade.)
> A primeira estrofe tem os banhistas como protagonistas. A segunda, os mineiros (ocultos). Mas o poema se chama Minas. As duas estrofes são Minas. O que é que os banhistas estão minerando, então? No que é que os mineiros se banham, então?
> Se escrever se equipara com minerar (pelo menos desde Drummond), aqui minerar se equipara com escutar. A escrita é essa escuta. Do outro que me escuta. De mim que escuto o outro.